sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Projeto Volta Atlântico - Etapa 18 - Na costa "purtuguesa".

Como viemos para o extremo norte de Portugal, agora temos toda a sua costa por percorrer. Dois terços são na direção sul, com ventos e corrente a favor, pelo menos é o que dizem as Charter Plotter para o período de verão. O último terço, já na direção leste, corre a chamada costa do Algarve, que é o point principal de veraneio. Dentro do nosso planejamento, temos até o final de agosto para curtirmos este trecho, mas gostamos muito de Viana do Castelo e resolvemos curti-la por mais dois dias.

Fomos então até Ponte de Lima, a Vila mais antiga de Portugal, que fica 20 km rio acima.

Um sitio pequeno, muito ajeitado e com muita história.

Muitos monumentos, em bronze, na escala natural e incorporados ao espaço público, aludindo a cultura local.
 
O pequeno centro histórico mantém o padrão de ruas muito estreitas contrastando com largos públicos.

Uma enorme praça, com plátanos, se estende ao longo do rio.

Um rio onde deve correr muita água, mas na estação das chuvas, agora está baixo. Há um clube náutico e muita atividade, pois estamos em plena féria de verão.

Visitamos o Museu dos Terceiros, instalado no antigo Convento de Santo Antônio dos Capuchos (do sec. XV) e o edifício da Ordem Terceira de São Francisco (sec. XVIII).

Sob o piso da igreja, um Cristo deitado na urna, visível através de um vidro.

Uma rica sacristia, ...

algumas capelas com jazigos, ...

o pátio do claustro, ...

uma escada interna, toda esculpida em blocos de pedra, ...

e o brasão da Ordem, bordado num enorme banner tecido.

Na Torre de São Paulo, os registros de três enchentes memoráveis que a cidade sofreu.

A ponte medieval que dá sequência a antiga ponte romana (pois o rio deve ter se deslocado) é um verdadeiro marco histórico.

A ponte, além de cruzar o rio, passa pela bela igreja de Sto. Antônio da Torre Velha, ...

e pelos Jardins Temáticos do Arnado.

Passamos somente um dia em Ponte de Lima, mas vimos muito e a adoramos.

No dia seguinte, finalmente subimos o emblemático Cerro de Santa Luzia, onde a Basílica de Santa Luzia se impões, sobre uma vasta paisagem, com a cidade de Viana do Castelo aos pés.


Deixamos para subir hoje, pois aqui em cima é a chegada de uma das etapas da 3ª da Volta Ciclística de Portugal, e o agito está grande.

No fim da tarde fizemos belas fotos da vista desde o Cerro.

Na volta, gaivotas tomando água numa fonte, no meio de uma rótula onde passavam muitos carros. Devem ser Gaivotas Urbanas.

Nossa permanência em Viana do Castelo acabou sendo bem longa. Ficamos tão familiarizados que no bar-restaurante onde íamos todas as noites para acessar a internet, fizemos amigos e fomos agraciados com um chope e um suco para brindarmos nossa partida.

Presente dos boa-praças Azevedo e Bruno.

Partimos de Viana do Castelo exatamente quando a cidade está engalanada para iniciar a famosa Romaria da Sra. D'Agonia. A festa mais tradicional, que dura 5 dias e agita toda a região. É uma pena mas não dá para ficarmos mais.
 
Na manhã seguinte partimos. O tal vento predominante de norte, da costa portuguesa não apareceu. Calmaria total e mar azeitado. Os golfinhos nos guiaram por um tempo. Parecíamos todos a navegar num céu azul.
 
Foram 140 milhas que fizemos durante umas 30 horas. No fim da tarde estávamos chegando nas Ilhas Berlenga, e ancoramos no único abrigo a sotavento, defronte a uma antiga fortaleza.
 
No dia seguinte fomos de bote para visitar a fortaleza, que é do sec. XVII. Toda com as pedras extraídas da ilha e portanto, mimetizada com ela. Fica assentada sobre uma ilhota e a ocupa totalmente. A ligação com a ilha principal é por um passadiço também em pedra.
 
Passeamos de bote. a remo, pelos arredores da fortaleza, onde havia muitas grutas, escavadas pela ação do mar. Algumas enormes, onde entramos maravilhados. Isto me lembrou Capri, uma ilha ao sul de Nápolis (Itália). 
Depois fomos fazer uma incursão por terra, na ilha principal.
 
A medida que íamos subindo, o Firulete ia ficando menor. A ilha é um berçário de aves marinhas, e seus gritos preenchem o vazio e são uma gostosa poluição sonora.
 
No alto, o gigantesco farol, cercado de aves por todos os lados.
 
A ilha é toda em rocha, muito recortada, e com quase nada de vegetação.
 
Uma pequena praia, incrustrada na rocha, é o point dos turistas, que vem diariamente em lanchas, de Peniche - cidade que fica a umas 5 milhas em frente, no continente.
Passamos um dia de deuses, num lugar que bem poderia ser o próprio paraíso.
 
No dia seguinte, partimos novamente para o sul. Passamos pelo Cabo da Rocas, que é o ponto mais ocidental de Portugal e do Continente Europeu. Um farol, sobre uma escarpa de mais de 100 metros de altura, que registra o importante marco geográfico.
 
Mas nossa descida pela costa portuguesa tem sido marcada pelo pouco vento. São navegadas sem pressa e bastante motoradas. Mas o cenário compensa.
 
Dobramos o Cabo Raso, e rumamos para oeste, num rumo a foz do Tejo, ...
 
mas ancoramos defronte a Cascais, numa calma enseada com muitos veleiros, ao lado de uma fina marina que não é para o nosso bolso.
 
No dia seguinte, saímos de turista, ...
 
com o Firulete de frente para a praia.
 
Cascais é uma bela cidade balneária. Muito próxima de Lisboa, com acesso por trens elétricos a cada 30 minutos.
 
Apesar de seu apelo turístico, mantém uma intensa atividade pesqueira.
 
Uma antiga fortaleza, chamada Cidadela, hoje abriga um hotel 5 estrelas.
 
Fui até a marina, atrás de uma loja náutica, para comprar uma nova bomba hidráulica de pedal, pois a que comprei no Caribe já quebrou. Não encontrei, mas valeu o passeio pelos barcos de todo mundo, ali atracados.
 
Voltamos para o Firulete, para fugir do calor de quase 40 graus.
 
Deslizava em nossa volta o veleiro SOBERBO. De madeira, com uma envergadura e elegância magistral. Ficamos no convés, admirando e fotografando. O proprietário desfilava orgulhoso de sua nave. Numa aproximação, perguntamos o ano do barco - 1929. Ficamos boquiabertos.
 
No fim da tarde, ou início da noite, pois anoitece as 22 horas, saímos para a rua novamente.
 
À luz do crepúsculo é sempre quando se faz as melhores fotos.
 
A cidade é cheia de bares e restaurantes e começa o seu agito gastro-etílico.
 
 
Contornamos a muralha, apreciando sua iluminação e fomos surpreendidos por um enorme largo público, ...
 
que era a cobertura de um estacionamento público, no subsolo. O que chamava a atenção eram as linhas de luz no piso e as caixas das escadas em vidro translúcido leitoso, com cores geradas por luz interna, que cambiava constantemente, mas num modo em degradê e sincronizado. Um show!
 
Depois passamos pelo Museu Condes de Castro Guimarães. Um castelinho, que brota da margem de um rio e está inserido num grande parque. Foi residência de vária gerações de uma família nobre, que terminou sem herdeiros e foi doada ao estado, virando museu.
 
Caiu a noite e seguimos caminhando e descobrindo detalhes daquela pequena e charmosa cidade.
 
Decidimos não ir para Lisboa. Eu já a conhecia, e o Cesar não fazia questão de ir para uma grande cidade, de modo que ficamos um pouco mais em Cascais. Aqui um monumento, em bronze, dedicado aos Descobrimentos Portugueses.

Saímos fazendo mais alguns registros fotográficos e ...

resolvi entrar no Museu Condes de Castro Guimarães.
 
 
 
No seu interior, toda a mobílias e utensílios da família se mantinham preservados.
 
Uma das salas foi ocupada temporariamente pelo poeta Fernando Pessoa. A decoração espartana, uma máquina de escrever, alguns livros clássicos da literatura.
 
Nas paredes, alguns pequenos recortes da sua vasta produção. Uma das pérolas: "O mar é a religião da natureza", escrito de próprio punho, no verso de um envelope.
 
Voltamos a cidade. Um labirinto de vielas, e em pequenos espaços, jardins exuberantes e flores em profusão.
 
A noite acontece a abertura de um ciclo de shows, que vão se estender pelos próximos dias. Há muitos apelos para irmos ficando por aqui, mas o que nos espera também não é pouco. Amanhã partimos.
 
No fim da noite, numa café-sorveteria, nosso ponto de internet, onde havíamos conhecido a Viviane, que ali trabalha. É uma brasileira, catarinense de Indaial, que está aqui a 7 anos, sem nunca voltar ao Brasil. Conhecemos a sua família: o marido Bruno e a filhinha Catarina, portugueses, e os sogros, Lena e Raul, que vieram de Moçambique. Muito simpáticos.
 
Na madrugada, entrou um ventão que fez o bote, que estava na água, amarrado na popa, levantar voo e amanhecer emborcado. Achamos melhor aguardar o vento amenizar e ...

curtimos praia. Mais um dia em Cascais. Nada mal. A praia aqui é protegida do vento pela própria cidade.

No dia seguinte, partimos novamente para o sul. Dobramos o Cabo Espichel, ...

onde mais um farol sinaliza o avançado do continente sobre o mar. Em outros tempos estes faróis eram imprescindíveis para a navegação noturna. Hoje, com o uso do GPS, já não significam tanto.

No fim do dia, ancoramos na abrigada enseada de Sines, onde tem uma marina, mas ficamos ancorados defronte a praia. Quando a ancoragem é tranquila, optamos sempre por ficar na âncora. Assim não gastamos com marina, e a sensação de liberdade é maior.

A pequena cidade de Sines fica bem elevada, em relação ao mar. Apesar do seu aspecto histórico e preservado, a cidade hoje abriga um importante polo petroquímico, que se instalou ao lado e em muito ampliou o movimento portuário e a arrecadação do município.

É o berço de Vasco da Gama, o navegador português que descobriu o caminho para as Índias, contornando o Cabo das Tormentas, no sul da África. Isto em 1498.

Esta é a casa, onde nasceu Vasco, em 1469. Fica dentro de uma fortificação, pois seu pai era o alcaide da vila.

Do forte, tem-se uma bela vista dos molhes que protegem a enseada, e do porto pesqueiro, que é bem ativo e, hospedagem de centenas de aves marinhas. Aguardam a chegada dos barcos e fazem a maior algazarra, na disputa do descarte das redes, que são jogados ao mar.

A Vila de Sines foi fundada em 1362, mas há indícios de civilização da pré-história e da ocupação romana.

Uma moderna biblioteca e centro de artes foi nosso point de internet.

A Igreja de Nossa senhora das Salas, foi encomendada por Vasco da Gama, em agradecimento ao sucesso de sua empreitada às Índias.

Partimos, novamente no rumo sul, para uma navegada de 64 milhas, ao longo da chamada costa alentejana, onde há muitas praias. A princípio quase nada de vento. Tivemos um fim de tarde mágico, onde uma névoa tomou conta de tudo. Num momento o sol foi dividido por uma fina faixa escura e mais parecia Saturno.

Calculamos, na saída, que passaríamos o famoso Cabo de São Vicente no amanhecer, pois queríamos curtir o visual, ao dobrar o vértice da costa oeste e costa sul de Portugal, só que o vento norte entrou forte e durante a noite andamos mais do que queríamos. Acabamos passando o cabo as 5 da madruga, com tudo escuro. O vento, nesta altura já rugia e o mar, naquele acentuada insinuação da costa, reagia revolto. Quando dobramos o cabo e ficamos protegidos do vento foi um alívio. Ficamos imaginando esta passagem em pleno inverno, com ventos de força 8 e ondas de mais de 10 metros.
Depois de dobrarmos a também famosa Ponta de Sagres, na primeira luz do dia, entrávamos já na enseada abrigada de Baleeira.

Largamos ferro, mas ficamos receosos de irmos para terra e corrermos o risco de o barco garrar (correr arrastando a âncora), tal era a força do vento que vinha de terra. Passamos então o dia a bordo, monitorando a ancoragem. Foi um dia de leitura e descanso.

Só no dia seguinte, fomos para terra, mas o vento se mantinha e controlávamos a posição do Firulete à distância. Com o tempo fomos confiando na ancoragem e desligamos.

Aqui o ídolo é o Infante Dom Henrique, filho de D. João I e D. Filipa de Lancastre, famoso por fundar a Escola de Sagres, que possibilitou Portugal se lançar ao mar, em busca de novos caminhos e terras. Fizeram uma estátua dele apontando para a costa da África e eu, o desafio, e aponto para o Brasil. A Escola de Sagres não era um centro de formação de navegadores, mas somente um centro de estudos e discussão, entre os cartógrafos e astrônomos, para concluírem o que haveria para além do mar conhecido. Isto ocorreu nos idos de 1450.

Percebemos que o relógio de sol não estava ajustado para o horário de verão, então o Cesar deu um jeitinho no ponteiro.

Fomos caminhando até a Ponta de Sagres, onde uma muralha do séc. XV isola o promontório.

Passando a muralha, alguns prédios da sua proteção e uma igreja, com influência árabe.

A partir dali, o platô de pura rocha, se estende até o farol e acaba no mar, 100 metros abaixo.

O visual a partir dali é magnífico. O Cabo de São Vicente, com seu imponente farol, fica logo ali. O vento é tanto que, nas rajadas, sentimos que vamos ser levados para o mar, que por sua vês, mais parece um gigantesco rebanho de carneiros. O nome Sagres, vem de  "Sacrum" - local sagrado - e por muito tempo isto aqui significou o fim do mundo.

O Cesar fez uma caminhada de 6 km, até o farol de São Vicente, eu desisti, pois o vento era muito intenso e resolvi ir espiar se o Firulete continuava onde o deixamos.

Na praia onde chegamos de bote, num improvisado e precário estaleiro, está sendo construído um catamaran de 23 metros. Trata-se de um projeto australiano, que está sendo construído por uns ingleses.

É o bicho mais estranho que já vi. Tem dois mastros de fibra de carbono sobre a banana principal, sem estais, com retranca integrada e que giram 360 graus. A cabine está deslocada sobre a outra banana, que funciona como contrapeso. O barco tem duas proas. Navega sempre com a cabine a barlavento, ou seja ora a frente é uma, ora a outra. Para isto terá dois lemes, sendo que o que estiver na popa estará atuando, enquanto o outro estará recolhido. Loucura. Estão tentando reinventar a pólvora.

Foram três dias de nortada. Todos os barcos estiveram enfiados em algum abrigo, durante este tempo.
No 4º dia, partimos. Agora nosso rumo será leste, durante toda a costa sul de Portugal, que se chama Algarve. É a região nobre de veraneio e o turismo de temporada é intenso.

Na costa do Algarve, o cenário muda totalmente. O vento predominante é terral. O litoral é recortado por pedras em tons areia, com pequenas praias protegidas do vento, e muitas cavernas, onde o mar penetra e, as vezes transpassa, mais parecendo um queijo suíço.
 
Passamos pela cidade balneária de Lagos e seguimos até a foz do Rio Alvor, que nos foi indicado por um casal de espanhóis, o Leandro e a Blanca, de um veleiro que conhecemos em Sines.
 
Entramos no Rio e ancoramos no seu estuário. Realmente um lugar de muita paz, onde assistimos um por do sol exuberante. Entramos no estofo da maré e ancoramos a 3,70 metros de profundidade. A meia-noite, na baixa-mar, ficamos preocupados, monitorando a vazão do rio e a profundidade que chegou a disparar o alarme da sonda. Nossa quilha é de 2 metros e restou apenas 5 cm de água abaixo dela. Quando a maré voltou a subir fomos dormir aliviados.
  
No dia seguinte, continuamos acompanhando a costa, até Portimão, ...
 
uma cidade também balneária, cujo acesso se faz pela barra do Rio Arade
 
Entramos numa fina marina, onde ...
 
um veleiro tipo regata, de mais de 100 pés, de bandeira norte-americana ocupava um píer inteiro.
 
Aqui um belo veleiro, com jeito de troller, muito confortável e bem acabado. Nele estavam um casal de idade que deviam estar morando a bordo.
 
A orla do rio tem uma pista para pedestre e bicicletas, que o Cesar não resistiu.
 
A cidade atrai muitos turistas, cresceu demais e seu centro histórico foi engolido pelo progresso. Resultado, perdeu o charme das cidades que estivemos até então.
 
Apesar da escala da cidade, que não é a do pedestre e exige um carro, caminhamos bastante, principalmente pela orla do rio, que é majestoso.
 
Alguns prédios tem a marca da influencia árabe, com abóbodas brancas no coroamento.
 
Uma antiga fábrica de sardinhas onde balaios vinham pendurados num teleférico, do barco até o processamento, virou museu.
 
No dia seguinte, deixamos a marina, pois sua diária era muito cara - 45 euros, e fomos ancorar num remanso do rio, junto da sua barra, ...
 
defronte a um castelinho, acho que uma residência, muito charmoso. Este lado do rio, onde acontecem algumas praias de areia, e tem uma forte atividade pesqueira, chama-se Ferragudo.
 
Na manhã seguinte saímos, novamente sem vento.
 
A costa continua dando o seu show, e o dia está perfeito.
 
Entra um ventinho de oeste. Desligamos o motor e deslizamos suavemente numa água-petróleo.
 
O calor é de quase 40 graus, e entramos na água para nos refrescar, vária vezes no dia.
 
Aqui um barco, com turistas, entra numa gruta, ...
 
nas proximidades de Albufeira. Uma cidadezinha muito atraente.
 
Eta vidinha mais ou menos! O Firulete, em aza-de-pombo, desliza suave. Já nem lembramos mais o que é inverno.
 
Chegamos então defronte a Faro. Outra cidade macro do litoral do Algarve. As férias de verão estão se encerrando e aviões decolam a todo instante, levando turistas de volta.
 
Entramos no canal da barra da Ria Formosa (isto mesmos, o rio aqui as vezes é no feminino). Um enorme estuário que banha Faro e Olhão, duas cidades grandes e próximas.
 
Uma ancoragem muito tranquila, onde devem ter mais de cem veleiros ancorados, mas tudo fica muito longe. Nem nos encorajamos a ir para terra. Nosso vizinho, um veleiro de bandeira alemã, nos chama atenção, pois seu bote de apoio também anda a vela.
 
Mais um por do sol de cinema nos encerra o dia.
 
Amanhecemos numa calma total. Na vizinhança, os barcos estão imóveis. Este amplo ancoradouro se chama Praça Larga. Ao lado um enorme baixio se chama Sapal dos Gemidos. Ouvimos no rádio, previsão de ventos fortes, chuva e talvez granizo para a região, para o final da tarde.
 
Resolvemos partir logo. Temos uma navegação de 26 milhas até o próximo porto, que é Vila Real de Santo Antônio, e queremos pegar o temporal já abrigados.
 
Este é o farol de Faro (que em Portugal significa farol).
 
No meio do caminho o tempo começa a mudar e entra uma névoa forte.
 
Passa por nós um pesqueiro com uma enorme revoada de aves, num griteiro só.
 
A névoa vai aos poucos se dissipando. Nossa navegada de 5 horas foi só motor. Nem subimos as velas.
 
Entramos no Rio Guadiana e ancoramos no píer de visitantes do Porto de Recreio.
Uma hora depois o tempo fechou e um forte vento entrou. O temporal parecia estar chegando, mas tudo passou rapidamente e nenhuma gota caiu. O que foi uma pena, pois já estamos com saudades de uma chuva. Nossa última, foi no dia 9 de junho, quando chegávamos na ilha de Horta, nos Açores. Estamos a quase 3 meses sem ter chuva. O verão é de muita seca em toda a península ibérica. Os noticiários do rádio anunciam a todo momento, a situação de focos de incêndio que estão a acontecer no país. Alguns de enormes proporções, chegando a envolver cerca de 1000 bombeiros e aeronaves no combate. Neste período que aqui estamos, já morreram 4 bombeiros nestas frentes.
 
A marina fica defronte a pequena cidade.
 
Pulamos para terra e fomos aproveitar o final da tarde para investigar o centrinho e a orla.
 
De terra vimos o Firulete, calmamente atracado. Do outro lado do rio já é Espanha. Aqui nos despedimos de Portugal, que tivemos o prazer de navegar de ponta a ponta. Nem Cabral fez isto no litoral brasileiro.
 
Vila Real de Santo Antônio é bem charmosa e se prepara para sua festa de Nossa Senhora da Encarnação, que acontecerá amanhã e depois. Mas não ficaremos para a Festa. Amanhã cedo partimos. A Espanha nos espera e nosso setembro será hablando.
Portugal foi uma estada maravilhosa. Nos sentimos em casa. Nossa cultura tem muito mais de Portugal do que imaginávamos. Fomos muito bem recebidos pelos portugueses, que demonstram um carinho especial pelo Brasil.
Até a ESPAÑA então!